terça-feira, 26 de agosto de 2008

Jovens arquitetos querem Capital com alma de interior

O sonho da nova geração de arquitetos e urbanistas é de que Campo Grande mantenha pelos próximos anos a qualidade de vida de cidade do interior, sem problema de alagamentos, com menor quantidade de veículos nas ruas, ciclovias, coleta seletiva de lixo, calçadas adaptadas para deficientes e o centro da cidade voltado para atividades culturais.

Para a campo-grandense Victoria Delvizo, de 25 anos, Campo Grande está em um momento crucial. O próximo prefeito deve decidir se a Capital irá crescer de forma equilibrada, mantendo a qualidade de vida de cidade do interior, ou se irá optar por um crescimento desenfreado.

“Campo Grande corre muito o perigo de se tornar um grande centro caótico e problemático como São Paulo, mas pode decidir manter o espírito de cidade do interior. É o momento de pensar no futuro”, diz a profissional formada pela UFMS e com mestrado pela UFRJ em arquitetura.

Segundo ela, a Capital está se tornando a “cidade dos carros”. Durante os dois anos de mestrado, Victoria fez um trabalho sobre a principal avenida de Campo Grande e chegou a conclusão que o pedestre está sendo preterido na Afonso Pena.

“Os carros estão ocupando todo o espaço, inclusive os canteiros centrais. A solução não é parar de fazer rua, é conciliar a construção delas com a de calçadas, canteiros centrais, ciclovias e o incentivo para o uso mais intenso do transporte coletivo”, afirma.

Ao contrário do que ocorre em outras capitais, em Campo Grande quem usa o transporte coletivo é porque não tem ou está impossibilidade de usar outro veículo. “O transporte coletivo deveria ser uma alternativa para todos”, afirma. “É uma questão de cultura. A cultura hoje em Campo Grande é de andar de carro próprio”, acrescenta.

Para os arquitetos Charis Guernieri e José Fernando Peralta, ambos de 26 anos, além do problema cultural, as pessoas deixam de usar o transporte público coletivo pela falta de qualidade. O transporte coletivo é lento, os ônibus vivem lotados e a passagem custa R$ 2,30. “Às vezes, andar de carro sai mais barato”, diz Charis.

A arquiteta natural de Curitiba (PR) imagina uma Campo Grande que valoriza a própria imagem, a cultura e que tenha coleta seletiva de lixo e pontos turísticos. “Tentaram implantar coleta seletiva, com aquelas sacolas plásticas laranjadas. Mas a Prefeitura não tem quem recolha. Isto é uma coisa que todas as grandes cidades do mundo estão fazendo. Aqui deveria ter também”, afirmou.

Para campo-grandense José Fernando também falta valorização do patrimônio histórico. “Campo Grande é uma cidade que recebe muita gente de fora. Então, quem chega, não tem explicita a história da cidade. É preciso dar mais valor nas coisas que a cidade construiu nestes 109 anos”, afirma.

Outra preocupação comum a Charis e José Fernando é com relação ao centro da cidade, que no período noturno fica entregue a marginais e a prostitutas. “Se fala muito em crescimento, mas o centro é um lixo. È preciso tentar dar uma humanizada nessa parte da cidade”, diz o arquiteto.

Charis diz que a solução está em transformar o centro da cidade em uma área cultural, revitalizando prédios antigos e melhorando a iluminação do lugar. A idéia é transformar a região central em um lugar agradável para ir, seja durante o dia, seja à noite.

Crescimento – Campo Grande passa por um momento econômico ímpar, com a vinda de grandes empreendimentos como três shoppings, que estão em construção, e o hipermercado Wal-Mart, inaugurado neste mês.

Os novos empreendimentos são: o Pátio Central Shopping, que está sendo construído na Rua Cândido Mariano. o Iguatemi Arvoredo, no Alphaville, na saída para Cuiabá e o Norte Sul, na Avenida Ernesto Geisel.

Para os três arquitetos entrevistados pelo Campo Grande News é um momento de crescimento acelerado da cidade. A arquiteta Victoria Delvizo ficou dois anos fora da cidade (2006 e 2007) e se assustou com o desenvolvimento quando voltou. “Os lugares estão mais lotados, a cidade cresceu muito, de forma assustadora”, afirma.

Campo Grande ainda vive um problema histórico e difícil de ser administrado: a grande quantidade de vazios urbanos, que é explicado, ao menos em parte, pela especulação imobiliária. As pessoas compram terrenos sem a intenção de construir, apenas esperando a valorização do local, o que acontece geralmente com a implantação do asfalto, para revender o imóvel.

“É um problema. Faz com que a cidade se espalhe e toda a rede (água, luz, e serviços como coleta de lixo) passe a ter que ter um alcance maior. Isso gera custos”, diz a arquiteta Victoria. “Só o fato de a pessoa ficar esperando já prejudica a valorização do local”

Paulo Fernandes

Um comentário:

Maristela disse...

Gostei da matéria dos jovens arquitetos, mas, melhor ainda seria construir o tão falado metrô de superfície. Estou no último semestre de Design de Interiores e meu TCC é sobre o estilo Art Déco em Campo Grande, onde estão e como estão sendo conservados. Seria ótima idéia transformar o centro da cidade.